Na primeira final de um grande torneio entre os clubes mais populares do país, deu Flamengo.
O time rubro-negro conquistou a Copa do Brasil na noite de quarta-feira (19), no Maracanã, no Rio de Janeiro. Após empate sem gols no estádio de Itaquera, em São Paulo, empatou com o Corinthians por 1 a 1 e venceu por 6 a 5 nos pênaltis. Repetiu, assim, uma façanha obtida no início da reestruturação financeira que o refez uma potência nacional e continental.
Os comandados de Dorival Júnior saíram na frente logo no início, com Pedro, e tiveram chances de ampliar, mas levaram um gol de Giuliano aos 37 minutos do segundo tempo. No desempate, estiveram atrás, após erro de Filipe Luís, mas contaram com falhas de Fagner e Mateus Vital. Rodinei, na última bola, decidiu.
Tricampeão do torneio em 2013, quando ainda estava em um cenário financeiro quase caótico, com uma dívida na casa dos R$ 750 milhões, o clube chegou ao tetra, em 2022, em outra condição. De acordo com o balancete divulgado no meio do ano, a dívida líquida havia caído a R$ 466 milhões, com a receita da temporada estimada em R$ 1 bilhão.
A reorganização da agremiação mudaria seu "patamar" –palavra que ficou célebre na boca do atacante Bruno Henrique, em uma das muitas conquistas recentes–, mas foi só após a gestão Eduardo Bandeira de Mello (2013-2018) que vieram as maiores conquistas. Rodolfo Landim, ex-aliado, assumiu em 2019 e tem conduzido a equipe um período de bonança.
A Copa do Brasil de 2013 foi o único triunfo do período de Bandeira de Mello que superou a barreira estadual. Nos dois mandatos de Landim, antes da glória sobre o Corinthians, o Flamengo levou duas edições do Campeonato Brasileiro (2019 e 2020), duas da Supercopa do Brasil (2020 e 2021), uma da Copa Libertadores (2019) e uma da Recopa Sul-Americana (2020).
Foi com Bandeira de Mello, eleito no fim de 2012, que foram criadas as condições financeiras. Mas foi com Landim que tomou forma o time poderoso que passou a acumular troféus. Diante de um Corinthians que há uma década conquistava o Mundial e não conseguiu se manter no topo –a dívida atual está em torno de R$ 1 bilhão–, a superioridade do elenco rubro-negro fez diferença.
Na equilibrada partida de ida da decisão, as melhores chances foram rubro-negras. No duelo de volta –antecedido de tensão, com múltiplas tentativas de invasão por parte de torcedores sem ingresso, com explosões de gás lacrimogêneo–, o aperto inicial dos donos da casa diante de um Maracanã lotado deu resultado.
Vítor Pereira optou por um esquema com três zagueiros, para que houvesse sempre alguém aberto de cada lado, a fim de explorar as viradas de jogo. Dorival Júnior respondeu com Arrascaeta caindo pela esquerda, às costas de Fagner, e foi assim que saiu o gol. Aos sete minutos, o uruguaio dominou por ali e tocou para Éverton Ribeiro, que deixou Pedro na cara de Cássio.
Após alguns instantes atordoado, o Corinthians começou a executar sua estratégia de rodar a bola, ficou mais com ela e cresceu. Mas a equipe visitante se expunha e esteve perto de levar o segundo em vários momentos. Em um deles, aos 33, só não se viu em desvantagem maior por um leve impedimento de Gabriel Barbosa.
No intervalo, Pereira acionou Adson e retomou o habitual 4-3-3. Houve uma pressão, mas foi Cássio que apareceu para fazer uma grande defesa, quando Pedro voltou a aparecer na sua frente. O jogo ficou aberto. Gabriel errou de um lado. Do outro, após boa troca de passes, Róger Guedes perdeu chance muito clara, com o gol aberto.
O Maracanã explodiu brevemente com mais um gol rubro-negro anulado por impedimento. Em seguida, começou a se irritar com o crescimento do rival, que se abriu cada vez mais em busca do empate. E o alcançou, aos 37, após cruzamento, bate-rebate e chute de Giuliano. Mas, nos penais, os donos da casa fizeram a festa.
Obtido em um momento bem distinto do vivido em 2013, o título só foi possível graças à reestruturação tática (e anímica) promovida por Dorival Júnior. Ele já havia assumido o time de maneira emergencial no fim de 2018, com resultados satisfatórios, mas Landim preferiu chegar à presidência com seu próprio treinador.
Abel Braga não empolgou, mas o português Jorge Jesus o substituiu e armou uma equipe potente, que levou o Liverpool à prorrogação no Mundial de 2019. Jesus decidiu voltar à Europa em 2020, e, embora taças tenham sido erguidas depois, custou para que o Flamengo voltasse a jogar um futebol convincente.
A tentativa mais recente, frustrada, foi com outro português, Paulo Sousa. Então, em junho, Landim acionou aquele que descartara.
Com seu papo simples, Dorival ganhou a simpatia de um grupo cheio de jogadores vaidosos. Com um esquema que vinha sendo considerado arcaico –o losango no meio-campo, popular nos anos 90–, otimizou a produção do meia Arrascaeta e alcançou o que seus antecessores não conseguiram: uniu Gabriel a Pedro no ataque. Agora, está na final da Copa Libertadores.
Na Copa do Brasil, a campanha até a decisão teve momentos de alguma dificuldade, especialmente diante de Atlético Mineiro e Athletico Paranaense. Contra esses adversários e contra o Corinthians, mesmo com todo o sofrimento, falou mais alto um elenco forte construído, na bonança, porque as torneiras estavam fechadas há quase uma década.