Flamengo e Corinthians decidem o título da Copa do Brasil na noite de quarta-feira (19), às 21h45, no Rio de Janeiro. Após empate sem gols no jogo de ida, no estádio de Itaquera, em São Paulo, rubro-negros e alvinegros duelam pela taça no Maracanã, um embate que, pelas características das equipes, passa pelo controle da bola.
A julgar pelas discussões desde a última semana, passa também pela influência sobre a arbitragem.
O lado preto e branco se sentiu prejudicado pela não marcação de um pênalti em toque de Léo Pereira na bola com o braço. Outra reclamação preta e branca é que João Gomes, pendurado, deveria ter sido expulso ao matar contra-ataque na etapa final. Já o volante diz que não merecia nem o cartão amarelo que recebeu no primeiro tempo –e o tirou da segunda partida.
O que se viu a partir do apito final na zona leste paulista foi um confronto de narrativas, com tentativas de ambas as partes de pressionar o árbitro escalado para o encontro no Rio, o goiano Wilton Pereira Sampaio. Até a tabela do Campeonato Brasileiro entrou no debate, com cada clube explorando todas as brechas para se mostrar lesado.
O técnico português Vítor Pereira levou ao pé da letra a promessa de que o Corinthians discutiria a eliminatória, expressão que costuma usar para falar sobre a competitividade de seu time. Lembrado de que não costuma falar sobre arbitragem, avisou, antes mesmo de começar sua entrevista pós-jogo em Itaquera: "Ah, mas hoje eu vou falar".
O mesmo fez o presidente Duilio Monteiro Alves, que formalizou uma reclamação na CBF (Confederação Brasileira de Futebol) "com a intenção de apontar as graves falhas, exigir profissionais capacitados e cobrar urgência na padronização de critérios". A entidade sustentou que a decisão de não marcar o pênalti foi correta.
Do outro lado, o Flamengo se queixou do adiamento da partida do Corinthians no final de semana. A equipe jogaria pelo Brasileiro em Goiânia, no sábado (15), contra o Goiás, que vendeu ingressos apenas para sua torcida. O clube paulista apelou ao STJD (Superior Tribunal de Justiça Desportiva), que reconheceu seu direito de ter torcedores no estádio e suspendeu o duelo no próprio sábado.
"É um evento ruim para o futebol brasileiro. Nem na várzea! Na várzea, quatro ou cinco horas antes, você sabe se vai ter jogo ou não", afirmou o vice-presidente de futebol da agremiação carioca, Marcos Braz. "Não ter jogo é muito ruim para o campeonato, para o evento, para todos os envolvidos, ainda mais com o Corinthians no episódio, porque jogaria sábado e quarta."
O argumento é que o time alvinegro entrará mais descansado na final. O Flamengo atuou no sábado, com uma formação que teve só jogadores de linha reservas –exceção feita a João Gomes, que não entrará em campo na decisão. O Corinthians também não teria titulares em campo no fim de semana, mas isso não impediu Braz de explorar o adiamento.
Além de toda a disputa de pressão nos bastidores, há, claro, um duelo estratégico. Os dois treinadores gostam de que suas equipes tenham a bola nos pés. Elas não são desenhadas para se defender com jogadores recuados e ficam desconfortáveis quando são obrigadas a fazer a marcação perto do próprio gol.
Na equilibrada partida de Itaquera, os times alternaram momentos de domínio, e cada um levou vantagem justamente quando controlou a posse.
Vítor Pereira repete sempre que espera ver sua equipe "pressionante". Como a escalação tem atletas com pouca participação defensiva, caso de Róger Guedes e Renato Augusto, a ideia é roubar a bola no campo de ataque para não ter que marcar no campo de defesa.
"A intenção é não deixá-los jogar. O Flamengo é uma equipe que precisa ser pressionada, senão começa a perder o respeito, a meter muita gente sobre a linha defensiva adversária, começa a jogar entre as linhas, a tricotar o jogo, e nos empurra para trás. Temos que pressionar mais. Se temos mais bola, há espaço para jogar", disse o português.
Esse espaço, observou, é pelos lados do campo. Dorival Júnior adota no Flamengo uma formação de losango no meio-campo, sem jogadores incumbidos de proteger especificamente as beiradas. Por isso, o Corinthians vai procurar transitar rapidamente de um lado a outro para pegar o rival desprotegido.
O problema é ter a bola.
O time rubro-negro tem vários atletas talentosos e gosta de chegar trocando passes pelo meio, com Éverton Ribeiro, Arrascaeta, Gabriel Barbosa e Pedro. "Nossa equipe sabe como ninguém atacar os espaços", afirmou Dorival, apontando que o rival fez um bom trabalho, no confronto de ida, para congestionar a entrada da área.
Para furar o bloqueio, o Flamengo contará com um Maracanã cheio. Já o Corinthians, que costuma ter torcedores bem barulhentos no Rio de Janeiro, teve apoio de mais de 27 mil em um treino aberto em Itaquera, na última segunda (17). Outros milhares prestigiaram o embarque e passaram sua energia para que o clube volte a festejar no palco em que foi campeão mundial, em 2000.
A glória na primeira final relevante entre as equipes mais populares do Brasil –a vitória alvinegra na Supercopa do Brasil de 1991 foi acompanhada por menos de 3.000 pagantes– vale também um bom prêmio. Cada time já assegurou R$ 41,8 milhões por ter chegado à final, e o vencedor receberá mais R$ 35 milhões.
Flamengo x Corinthians
21h45, no Maracanã, Rio de Janeiro (RJ)
Na TV: Globo, SporTV, Premiere e Prime Video